quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ortega y Gasset: idéias sobre a novela

Compartilho em tradução livre do espanhol algumas notas sobre a arte da ficção em Ortega y Gasset, compiladas por Jose Edmundo Clemente em "Ortega y Gasset - Estetica de la Razón Vital" (Ediciones la Reja - Buenos Aires, junho de 1956, p. 39-40). No primeiro capítulo, idéias do filósofo madrilenho sobre como se faz uma novela. Preciosas.


1) "A arte é um fato que acontece em nossa alma ao ver um quadro ou ler um livro".

2) "Proust (...) se aproxima dos objetos mais do que o de costume. Ele foi o inventor de uma nova distância entre nós e as coisas. Esta simples reforma é de resultados (...) tão estupefaciantes que quase toda a produção literária toma um aspecto de literatura pela vista de pássaro toscamente panorâmica quando se a compara com esse gênio deliciosamente míope"

3) "Costuma-se acreditar que é a trama um dos grandes fatores estéticos da obra, e consequentemente se pedirá maior quantidade dela possível. Eu acredito, inversamente, que sendo a ação um elemento não mais que mecânico, é esteticamente peso morto e, portanto, deve ser reduzida ao mínimo. Mas frente a Proust, considero este mínimo imprescindível (...)"

4) "Em Proust, a morosidade e a lentidão chegam ao seu extremo e quase se convertem em uma série de planos estáticos, sem progresso nem tensão. Sua leitura nos convence de que ultrapassou a medida da lentidão conveniente. A trama fica quase anulada (...) A novela fica assim reduzida a pura descrição imóvel (...) sem ação concreta, que é, com efeito, essencial ao gênero. Notamos que lhe falta o esqueleto, a sustentação rígida e tensa que são os arames no guarda-chuvas (...) Por esta razão, ainda que a trama ou a ação possua um papel mínimo na novela atual, na novela possível não cabe eliminá-la por completo, pois conserva a função, certamente não mais que mecânica, do fio no colar de pérolas, dos arames no guarda-chuvas, das estacas nas barracas de campanha."

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