segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Cultura digital e desmassificação I

Pós-homens-massa Aqui e ali já se notam as estratégias das empresas na internet para gerar comportamentos massivos através de ambientes pós-massivos. São espécies de homens- massa customizados, a parecerem indivíduos autônomos, mas no fundo não só seguem como aprofundam os padrões de consumo da era industrial. Um perigo é que, com as novas tecnologias de produção pós-industriais, a produção capitalista atual sabe que não precisa mais fazer nada em série, nem seres humanos em série. Hoje, trabalhando com a tática de criar – eles dizem “descobrir” - nichos de mercado, ela amplia seu poder ao fazer homens-massa customizados, com aparência de autônomos. As roupas e os cabelos parecem diferentes entre si, mas este tipo de homem-massa customizado segue o mesmo por dentro: inautêntico e diminuído ao elemento fundamental do consumidor, em vez de responsável por fazer sua própria vida. Mesmo no ambiente pós-massivo, este tipo massificado pelo mercado continua massa, pois segue sendo educado pelo mercado e pelos usos da sociedade desvitalizada pelo pragmatismo utilitarista, materialista e agora pela internet para se comportar como massa, invertebrada e vaga. Em sentido contrário, nunca se teve tantas condições de se “hackear”, fazer truques, implantes, rachas no sistema. A articulação da cultura colaborativa digital com a economia solidária tem revelado um potencial gigantesco de revitalização cultural, em todo o mundo onde ela se desenvolve. Uma das razões é que ela é capaz de “destampar” culturas populares rurais, urbanas, suburbanas, antes invisibilizadas, por sua capacidade de descentralizar e multidirecionar os fluxos de informação e de recursos, antes unidirecionalmente ativados desde um centro industrial para o consumo de massas. Sua capacidade de transversalidade e transdisciplinariedade permite que se gerem soluções e alternativas, convergências entre futuro e passado, de saberes e fazeres tradicionais com as inovações de ponta, sem no entanto isso significar homogeneização, mas mistura, diversidade, amálgama ou síntese. E como seria este pós-homem-massa? De maneira dialética, é preciso procurar a virtuosa posição de convergência, como Aristóteles ensina com o seu certeiro meio-termo justo. Com as condições atuais, ele pode sair do binarismo. Pode não ser nem horizontalidade nem verticalidade somente. Pode deixar para trás a infértil ideia de não-sujeito da pós-modernidade, da quase anulação da possibilidade de agir esteticamente, politicamente e eticamente da pós-modernidade, mas não precisa retornar ao indivíduo solipsista cartesiano, cheio de uma moral e de uma razão mortas, como alertava o filósofo espanhol. Nos dias de hoje, começamos a ter a convivência de indivíduos solipsistas, homens-massa, homens-massa customizados e pós-homens-massa. Primeira parte do posfácio de Homem-massa A filosofia de Ortega y Gasset e sua crítica à sociedade massificada Lançamento dia 17 de outubro, 19h. Pinacoteca Rua da República, Cidade Baixa, Porto Alegre.

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