terça-feira, 27 de maio de 2008

Tinha no rosto uma ponte

“Na verdade, há anos atrás, era atravessada de vielas, e tinha no rosto, às avessas, uma ponte. A Lua a encobria como nuvem no telhado das casas, de onde brincava de escorrer pelas paredes ásperas. Era mistura de muro com esquina; outras vezes, ria. Você podia ver em seus olhos (se quisesse, ou se já tivesse nascido, já que a vaca é alguém ou algo que atravessa os tempos desde que tempo há , em campos ressecados de esperança ou em verdes planícies onduladas de sereno e lonjura) a chuva fina que a alimentava, e em seu peito podia ouvir vozes de conchas. Porque era oca por fora, porque por dentro tinha uma avenida. Respondia a todas as perguntas com uma mesma resposta (acertava sempre). Quando chegou aqui, não existia, mas foi se construindo com as pedras que atiravam nela. Então, agora, é feita de concreto armado, derretida por dentro, como açúcar”
(O filósofo Kierkegaard, bradando, ainda ontem, no alto de um fiord dinamarquês)

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